Os resultados das partidas de futebol podem ser enganosos. Um time domina por 90 minutos, finaliza de todas as posições e perde por 0–1 após um único contra-ataque do adversário. Todo torcedor já viu um jogo assim – e todo apostador sabe como apostas desse tipo são frustrantes. É justamente por isso que cada vez mais pessoas que apostam em futebol recorrem às estatísticas de xG (expected goals), que mostram muito mais do que o simples placar no quadro.
O que é xG e por que ele é importante?
Expected goals é uma métrica que atribui a cada chance de gol uma probabilidade de resultar em gol. Um chute a cinco metros do gol após um cruzamento? Isso pode ter um xG em torno de 0,8 (80% de chance). Uma tentativa de 25 metros, com dois defensores na linha de visão? Algo mais próximo de 0,05 (5% de chance).
Na prática, isso significa que um time pode perder uma partida por 0–1, mas gerar um xG de 2,3 – o que sugere que, com um pouco de sorte, deveria ter marcado dois, talvez três gols. Esse time não é fraco. Ele é apenas azarado. E são exatamente essas situações que são ouro para quem consegue identificá-las antes do bookmaker.
Principais métricas às quais vale a pena prestar atenção
Conhecer apenas o xG não é suficiente. É preciso saber exatamente o que analisar antes de fazer uma aposta.
xG (expected goals) – número médio de gols que um time deveria marcar com base na qualidade das chances criadas. Se uma equipe gera regularmente um xG de 1,8 por jogo, mas marca em média apenas 0,9 gol, isso é um sinal de que a forma dos atacantes pode se inverter em breve.
xGA (expected goals against) – quantos gols um time deveria sofrer, considerando as chances criadas pelos adversários. Um xGA baixo (por exemplo, 0,7) combinado com um número alto de gols sofridos (por exemplo, 1,5) pode indicar que o goleiro está passando por uma fase ruim ou que a defesa tem tido azar com desvios.
xG90 – estatística calculada por 90 minutos completos de jogo. Útil ao comparar equipes de ligas diferentes ou times que jogam números distintos de minutos (por exemplo, devido a cartões vermelhos ou lesões).
Os melhores resultados vêm da análise dos últimos 5–10 jogos. Uma partida isolada pode ser distorcida pelo acaso – um cartão vermelho, um erro de arbitragem, condições climáticas. Mas quando uma tendência se mantém por várias rodadas, ela começa a revelar a verdadeira forma da equipe.
Estratégias de apostas utilizando xG
1. Over/Under no número de gols
Se ambas as equipes apresentam médias altas de xG (somadas acima de 2,5) e, ao mesmo tempo, defesas fracas (xGA acima de 1,0), isso é um forte sinal para apostar em over 2,5 gols. Esses jogos costumam terminar com placares como 2–2, 3–1 ou 3–2.
Por outro lado, se o mandante tem um xGA baixo (ou seja, defende bem), e o visitante joga de forma defensiva e tem xG abaixo de 1,0, vale considerar o under 2,5. Isso funciona especialmente em partidas entre equipes da parte de baixo da tabela, onde ambos os lados têm medo de perder.
2. BTTS (ambas as equipes marcam)
As estatísticas de xG ajudam a prever se ambos os times encontrarão o caminho do gol. Se cada equipe gera, em média, mais de 1,2 xG por partida e, ao mesmo tempo, sofre mais de 1,0 xGA, a probabilidade de BTTS aumenta significativamente.
Atenção: não se baseie apenas no último jogo. Um time pode marcar três gols em bolas paradas, o que não reflete sua real qualidade no jogo em bola rolando.
3. Apostar no vencedor – encontrar equipes subvalorizadas
Esta é a estratégia mais interessante. Ela consiste em encontrar equipes que jogam melhor do que a tabela indica. Um exemplo clássico:
Equipe A: xG médio de 1,8, xGA de 0,9, mas os últimos resultados são três empates e uma derrota. As odds para sua vitória são altas, porque o bookmaker olha para a tabela, não para as estatísticas.
Equipe B: xG médio de 0,7, xGA de 1,5, mas três vitórias nos últimos quatro jogos – muitas vezes com sorte, após erros dos adversários ou gols aleatórios.
O xG sugere que a equipe A está subvalorizada. Ela cria boas chances, mas ainda não as converteu em pontos. A regressão à média indica que o desempenho em termos de pontuação deve melhorar. Esse é o momento de apostar nela antes que as odds sejam ajustadas.
Exemplo prático de comparação
Imagine duas situações diferentes que podem ajudar na tomada de decisão:
Equipe subvalorizada – o time gera um xG alto, em torno de 1,8, e ao mesmo tempo mantém um xGA baixo de 0,9. Isso significa que cria boas chances de gol e raramente permite finalizações perigosas dos adversários. Apesar disso, os resultados recentes não se convertem em pontos – talvez por azar na finalização ou pela excelente forma dos goleiros adversários. Esse tipo de equipe é candidata a uma aposta em sua vitória antes que o mercado perceba a real qualidade de seu jogo.
Equipe supervalorizada – o time tem xG baixo (0,7) e xGA alto (1,5), mas vem vencendo partidas recentemente. As estatísticas mostram, porém, que essas vitórias são resultado de sorte – gols após desvios, erros dos adversários, pênaltis controversos. Esse tipo de sequência raramente dura muito tempo. No caso de uma equipe assim, vale considerar uma aposta em over 2,5 gols em seus jogos, pois a defesa fraca e a baixa qualidade ofensiva sugerem que em breve começará a perder pontos, e as partidas se tornarão mais abertas.
Onde encontrar dados de xG?
O acesso às estatísticas de xG não exige assinaturas pagas. Algumas fontes populares incluem:
- Understat – dados detalhados de xG para as principais ligas europeias, com divisão por partidas individuais e jogadores
- FBref – estatísticas abrangentes, incluindo xG90, xGA e comparações por temporada
- FootyStats – resumos simples de xG com opção de filtrar por ligas e equipes
Vale a pena utilizar várias plataformas, pois os modelos de xG podem diferir ligeiramente. Um serviço pode avaliar um chute em 0,25, outro em 0,30 – isso é normal, já que os algoritmos levam em conta fatores diferentes (posição do goleiro, pressão dos defensores, parte do corpo utilizada).
O que o xG não considera – alertas importantes
As estatísticas de xG são uma ferramenta poderosa, mas não explicam tudo. Algumas situações em que é preciso cautela:
- Cartões vermelhos – o xG de uma partida em que um time jogou com um jogador a menos por uma hora diz pouco sobre sua verdadeira qualidade.
- Lesões de jogadores-chave – se o principal artilheiro estiver fora, o xG histórico pode ser enganoso.
- Especificidade das competições – jogos de mata-mata, em que uma equipe defende o resultado do primeiro confronto, são diferentes das partidas de liga.
- Bolas paradas – nem todos os modelos de xG tratam faltas e escanteios da mesma forma. Uma equipe eficiente em bolas paradas pode ter um xG menor do que o número de gols sugeriria.
Por isso, o xG é melhor utilizado em conjunto com outros dados: forma recente, confrontos diretos (H2H), informações sobre escalações e motivação das equipes.
Quando o xG funciona melhor?
Expected goals funcionam especialmente bem no médio e longo prazo. Em uma única partida, tudo pode acontecer – mas após 10 rodadas, as diferenças entre xG e gols reais geralmente se equilibram.
Isso significa que as melhores apostas são aquelas baseadas em tendências, não em resultados isolados. Se uma equipe gera consistentemente um xG alto por cinco ou seis jogos, mas pontua mal, vale a pena observá-la. A chance de correção de forma aumenta a cada rodada.
O mesmo vale no sentido oposto – um time com xG baixo que vence graças à sorte, mais cedo ou mais tarde começará a perder pontos. Os bookmakers às vezes demoram a reagir a essas situações, o que cria espaço para encontrar odds de valor.
Apostar em partidas com base no xG não é magia negra, mas uma análise metódica do que acontece em campo. Em vez de se guiar por emoções ou pelo último resultado, você observa a qualidade do jogo – e isso muitas vezes gera uma vantagem sobre o mercado. É claro que nenhuma estatística garante vitória, mas o xG ajuda a tomar decisões baseadas em fatos, não em intuição. E, no longo prazo, é justamente essa diferença que determina o sucesso.
