O sistema de ranking da UEFA é um mecanismo matemático que avalia a força das ligas nacionais e dos clubes individuais com base nos seus resultados nas competições europeias ao longo das últimas cinco temporadas.
Embora esteja diretamente ligado às competições continentais na Europa, seu impacto vai muito além — ele determina a distribuição de vagas em torneios prestigiosos, o valor das premiações financeiras e o posicionamento dos clubes nos sorteios. Para clubes da América do Sul e de outros continentes, sua importância é indireta, mas claramente perceptível no contexto de transferências, valorização de jogadores e do prestígio global do futebol de clubes.
Os dois pilares do sistema da UEFA: ranking de ligas e ranking de clubes
A UEFA mantém dois rankings paralelos. O ranking de ligas (nacional) define quantas vagas uma determinada federação recebe na Liga dos Campeões, Liga Europa e Liga Conferência Europa. Já o ranking de clubes é usado para o posicionamento das equipes nos sorteios e para a distribuição de prêmios individuais.
Ambos se baseiam nos pontos conquistados por clubes de um determinado país nas competições europeias ao longo das últimas cinco temporadas. O sistema de pontuação é uniforme: dois pontos por vitória e um ponto por empate (a partir da fase de liga). Além disso, são concedidos bônus: quatro pontos por chegar à fase de grupos da Liga dos Campeões, cinco pontos por avançar à fase eliminatória da Liga dos Campeões e prêmios adicionais por cada etapa seguinte da competição.
É importante destacar que os pontos obtidos nas fases qualificatórias contam para o ranking de ligas, mas não influenciam o ranking de clubes. Por isso, equipes polonesas, que frequentemente disputam as eliminatórias, conseguem elevar o coeficiente do país, mesmo que suas classificações individuais permaneçam modestas.
Como é calculado o ranking de ligas da UEFA?
O coeficiente de uma liga é a soma dos pontos conquistados por todos os clubes de uma federação, dividida pelo número de equipes que participaram das competições europeias naquela temporada. O resultado é arredondado para baixo com três casas decimais. Em seguida, somam-se os resultados das últimas cinco temporadas.
Exemplo da temporada 2024/25: a Inglaterra, com 103,339 pontos, ocupa a primeira posição no ranking da UEFA e tem direito a sete vagas nas competições europeias a partir da temporada 2027/28. A Polônia, na 12ª posição com 41,125 pontos, dispõe de cinco vagas. Isso é uma consequência direta do desempenho dos clubes poloneses na Europa nos últimos anos — quanto melhores os resultados, maior o coeficiente e mais oportunidades de disputar torneios continentais.
Vale notar que o sistema premia a regularidade. Uma única temporada bem-sucedida não é suficiente — o que conta é a constância na conquista de pontos por diferentes clubes da liga. Por isso, ligas intermediárias, como a Ekstraklasa polonesa, podem subir no ranking graças ao esforço conjunto de vários clubes, mesmo que nenhum deles alcance sucessos individuais espetaculares.
Ranking de clubes da UEFA – a luta por prestígio e um caminho mais fácil
Para os clubes individuais, o ranking de clubes é a soma dos pontos obtidos ao longo de cinco temporadas, com um valor mínimo equivalente a 20% do coeficiente da liga à qual o clube pertence. A esse total somam-se os bônus por desempenho nas fases de grupos e eliminatórias.
No topo do ranking, com 143,5 pontos, está o Real Madrid — resultado de anos de domínio na Liga dos Campeões. Logo atrás aparecem outros gigantes europeus, como Manchester City, Bayern de Munique e Paris Saint-Germain.
O ranking de clubes define o posicionamento nos sorteios da fase de liga e das fases eliminatórias. Equipes com coeficientes mais altos são colocadas nos primeiros potes, o que teoricamente permite evitar os adversários mais fortes nas rodadas iniciais. Trata-se de uma vantagem esportiva concreta, que pode se traduzir em classificações mais profundas e receitas maiores.
Além disso, o coeficiente de clube influencia a distribuição das premiações financeiras da UEFA. Quanto mais alta a posição no ranking, maior a parcela inicial garantida. Isso representa um aporte financeiro real, que pode chegar a dezenas de milhões de euros de diferença entre clubes do top 10 e aqueles da segunda dezena do ranking.
Por que o ranking da UEFA é importante fora da Europa?
À primeira vista, o sistema da UEFA parece dizer respeito apenas às competições continentais europeias. Na prática, porém, sua influência é global, inclusive para torcedores e clubes da América do Sul.
Transferências de jogadores. Atletas que atuam em clubes com alto ranking na UEFA têm maior valor de mercado. Um atacante brasileiro jogando no Real Madrid ou no Manchester City é um ativo de transferência completamente diferente do mesmo jogador atuando em um clube das posições mais baixas do ranking. Talentos sul-americanos frequentemente chegam aos clubes do topo da UEFA, onde podem ganhar mais e ver seu valor de mercado crescer mais rapidamente.
Prestígio e visibilidade midiática. As competições europeias, especialmente a Liga dos Campeões, são os torneios de clubes mais prestigiados e assistidos do mundo. Participar delas aumenta a visibilidade dos jogadores, o que é relevante em negociações contratuais, acordos publicitários e transferências futuras. Um argentino jogando na Inter de Milão tem muito mais exposição midiática do que se atuasse apenas em sua liga nacional.
Comparações internacionais. Embora os clubes sul-americanos disputem a Copa Libertadores, e não as competições da UEFA, o ranking da UEFA serve como referência na avaliação da força das ligas europeias. Clubes sul-americanos acompanham esses rankings porque seus jogadores frequentemente acabam atuando na Europa. Sabe-se que ligas como a espanhola ou a inglesa têm um nível mais alto do que a maioria das ligas sul-americanas — e isso se reflete justamente no ranking da UEFA.
Investimentos e estratégias dos clubes. Investidores globais estão cada vez mais adquirindo participações em clubes europeus, guiando-se, entre outros fatores, pela posição no ranking da UEFA. Um coeficiente mais alto significa maiores chances de receitas regulares vindas das competições europeias, o que torna o clube um ativo de negócio mais atraente. Esse fenômeno afeta indiretamente o mercado de transferências, do qual os clubes sul-americanos também participam, vendendo seus melhores jogadores para a Europa.
Críticas e controvérsias do sistema de ranking da UEFA
O sistema de ranking da UEFA é frequentemente criticado por favorecer os clubes mais ricos e criar um círculo fechado de elite. As equipes das ligas mais fortes recebem mais vagas nas competições, mais dinheiro e sorteios mais favoráveis — o que dificulta ainda mais a concorrência para clubes de federações menores. Trata-se de um mecanismo autoalimentado: o sucesso gera mais sucesso, enquanto as ligas mais fracas ficam para trás.
Há vozes que defendem mudanças na forma de cálculo dos coeficientes ou a introdução de regras de acesso mais equilibradas às competições. Por enquanto, porém, a UEFA mantém o modelo atual, que — apesar de suas falhas — garante estabilidade e previsibilidade ao sistema.
Resumo
O sistema de ranking da UEFA é um mecanismo complexo, mas lógico, que distribui vagas nas competições europeias e prêmios financeiros entre clubes e ligas nacionais. Ele se baseia nos resultados das últimas cinco temporadas e premia a consistência esportiva. Para torcedores e clubes fora da Europa, incluindo os da América do Sul, sua importância é indireta — influencia a valorização dos jogadores, as estratégias de transferência e o prestígio global do futebol de clubes.
Embora não determine diretamente o sucesso na Copa Libertadores ou em outras competições fora da UEFA, ele constitui um importante ponto de referência no mundo do futebol e estabelece os padrões pelos quais a força dos clubes é avaliada globalmente. Na era da globalização do futebol, cada ponto no ranking da UEFA tem seu peso — mesmo a milhares de quilômetros da Europa.
